Palavras naturaes, razões expertas,
Que possão declarar a dor presente.
Mas nesse teu error vejo que acertas;
Porque com nenhum mal deve turbar-se
Quem só delle esperanças logra certas.
SYLVANO.
A quem, Soliso meu, de declarar-se
Com outro em casos taes falta vontade,
Nunca faltão razões para escusar-se.
Não sei donde te vem tal novidade;
Pois negando-me agora o que te peço,
Suspeito que me negas a amizade.
Se pola que te guardo te aborreço,
Sabe que só hum cego entendimento
Ás amizades faz perder o preço.
Eu te deixarei só com teu tormento;
Mas não sem dor de ver que tanto a peito
Tomes hum tão damnoso pensamento.
SOLISO.
Outra he, certo, a razão, outro o respeito
Que negar-te me fez o que pedias:
Não creias que de ti tão mal suspeito.
Bem sei que o meu descanso pretendias;
E a mesma confiança faz negar-te
O que destes sinaes saber querias.
SYLVANO.
Não queiras mais, Soliso, prolongar-te;
Pois pende o gôsto meu da tua vida:
Se corre risco, dá-me delle parte.
SOLISO.
De todo a sinto ja desfallecida{
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