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E vós, sylvestres Faunos namorados,
Tambem chorar podeis, pois ja perdêrão
O objecto mais gentil vossos cuidados.
Nymphas, a quem os deoses concedêrão
Destes sagrados bosques a morada,
E em quem tamanhas graças escondêrão;
Se aquella piedade costumada,
De que mais vos prezais, não esquecestes,
Que sempre foi de vós tão venerada;
Se ja d'alheio damno vos doestes,
Do vosso proprio vos doei agora,
Pois com Natercia todo o bem perdestes.
Oh Naiades! das ágoas sahi fóra;
E de vós ágoa saia em mal tão forte,
Pois de vê-lo tambem o monte chora.
Oh Napêas! chorae a triste sorte
Dos miseros pastores, a quem nega
O fado por mais pena o mortal córte.
Oh Dryas! vós, a quem Amor s'entrega,
Tomae todo o cuidado deste pranto,
Pois sabeis onde a causa delle chega.
Deixae, ó Amadryas, entretanto
As plantas que guardais, por ajudar-me,
Pois deixa a Philomella o doce canto.
E vós, ó vida minha, pois curar-me
Ja não podeis, deixae-me juntamente,
Porque lembranças taes possão deixar-me.
Mas se dellas morreis, morro contente.{300}
CANÇÕES.
CANÇÃO
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/373
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