Lagrimas, e suspiros, pensamentos,
Quem delles se queixar, formosa Dama,
Mimoso está do mal que por vós sente.
Qual bem maior deseja quem vos ama,
Qu'estar desabafando seus tormentos,
Chorando, imaginando docemente?
Quem vive descontente
Não ha de dar allívio a seu desgôsto,
Porque se lhe agradeça;
Mas com alegre rôsto
Soffra seus males, para que os mereça:
Que quem do mal se queixa, que padece,
O faz porqu'esta gloria não conhece.
De modo que se cahe o pensamento
Em alguma fraqueza, de contente,
He porqu'este segredo não conheço.
Assi que com razões não tãosomente
Desculpo ao Amor de meu tormento,
Mas inda a culpa sua lh'agradeço.
Por esta fé mereço
A graça qu'esses olhos acompanha,
E o bem do doce riso.
Mas ah! que não se ganha
Co'hum paraiso, outro paraiso.
E d'enleada assi minha esperança
Se satisfaz co'o bem que não alcança.
Se com razões escuso meu remedio,
Sabe, Canção, que só porque o não vejo,
Engano com palavras o desejo.{303}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/376
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