E logo desculpar-me;
Hum recear ousando;
Andar meu bem buscando,
E de o poder achar acovardar-me;
E, emfim, averiguar-me
Que o fim de tudo quanto estou fallando,
São lagrimas e amores;
São vossas isenções e minhas dores.
Mas quem terá, Senhora,
Palavras com qu'iguale
Com vossa formosura a minha pena;
E em doce voz de fóra
Aquella gloria falle
Que dentro na minh'alma Amor ordena?
Não póde tão pequena
Fôrça d'engenho humano
Com carga tão pezada,
Se não for ajudada
D'hum piedoso olhar, d'hum doce engano,
Que fazendo-me o dano
Vão deleitoso e a dor tão moderada,
Emfim se convertesse
No gôsto dos louvores qu'escrevesse.
Canção, não digas mais; e se teus versos
Á pena vem pequenos,
Não queirão de ti mais; que dirás menos.{
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/388
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