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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/390

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Por minha dura sórte,
Com falsas esperanças me convida.
Não cuide o pensamento
Que póde achar na morte
O que não pôde achar tão longa vida.
Está ja tão perdida
A minha confiança,
Que de desesperado,
Em ver meu triste estado,
Tambem da morte perco a esperança.
Mas oh! que s'algum dia
Desesperar pudesse, viveria.
  De quanto tenho visto
Ja agora não m'espanto,
Que até desesperar se me defende.
Outrem foi causa disto,
Pois eu nunca fui tanto
Que causasse este fogo que m'encende.
Se cuidão que m'offende
Temor d'esquecimento,
Oxalá meu perigo
Me fôra tão amigo,
Que algum temor deixára ao pensamento!
Quem vio tamanho enleio,
Que houvesse ahi'sperança sem receio?
  Quem tẽe que perder possa,
Só póde recear.
Mas triste quem não póde ja perder!
Senhora, a culpa he vossa,
Que para me matar
Bastára hum'hora só de vos não ver.{