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XXXVIII
VIDA

Depois de alli servir algum tempo, voltou á patria, onde por travessuras amorosas e brigas com seus rivaes se lhe movêrão taes perseguições, que para fugir aos laços que se lhe ormavão, não encontrou melhor meio, que o de passar a servir na India. No anno de 1550 se alistou, como dissemos, para sahir na mesma nao, em que ia o Viso-Rei Dom Affonso de Noronha: mas esta nao, pelo mao estado em que ia, depois de sahir, arribou ao porto de Lisboa para se concertar, e o poeta, se acaso estava a seu bordo, tornou a desembarcar; e ou por falta de saude, ou por outro impedimento se deixou ficar em terra; e não veio a sahir para o seu destino, senão dous annos depois, no de 1553, como consta de outro assento do ja citado livro de Registo, tambem achado por Faria e Sousa: e foi na mesma nao, em que ia Fernão Alvares Cabral, capitão mor de quatro, que então sahírão do Tejo, das quaes só esta pôde chegar no mesmo anno a Goa, depois de haver soffrido grandes tormentas. E tão anojado ia o poeta contra a patria, que as derradeiras palavras que disse na despedida, forão (como se ve de uma carta que de Goa escreveo) as de Scipião Africano: Ingrata patria, non possidebis ossa mea.

Na occasião da sua chegada a Goa, como o Viso-Rei Dom Affonso estivesse aprestando uma grossa armada para ir em soccorro do Rei de Porcá, nosso alliado, a quem o da Pimenta ou Chembé havia tomado uma ilha, o acompanhou o poeta nesta expedição, cujo successo elle mesmo brevemente refere na Elegia 3.ª; e com elle voltou a Goa. Em Setembro do