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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/455

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  Zephyro brando espíra;
Suas settas Amor afia agora;
Progne triste suspira,
E Philomela chora:
O ceo da fresca terra se namora.
  Ja a linda Cytherêa
Vem, do côro das Nymphas rodeada;
A branca Pasitêa Despida e delicada,
Com as duas irmãas acompanhada.
  Em quanto as officinas
Dos Cyclopas Vulcano está queimando,
Vão colhendo boninas
As Nymphas, e cantando,
A terra co'o ligeiro pé tocando.
  Desce do aspero monte
Diana, ja cansada da espessura,
Buscando a clara fonte,
Onde por sorte dura
Perdeo Actêo a natural figura.
  Assi se vai passando
A verde Primavera e o sêcco Estio;
O Outono vem entrando;
E logo o Inverno frio,
Que tambem passará por certo fio.
  Ir-se-ha embranquecendo
Com a frigida neve o sêcco monte;
E Jupiter chovendo
Turbará a clara fonte:
Temerá o marinheiro a Orionte.
  Porque, emfim, tudo passa;{382}