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ODE XII.
Ja a calma nos deixou
Sem flores as ribeiras deleitosas;
Ja de todo seccou
Candidos lirios, rubicundas rosas:
Fogem do grave ardor os passarinhos
Para o sombrio amparo de seus ninhos.
Meneia os altos freixos
A branda viração de quando em quando;
E d'entre vários seixos
O liquido crystal sahe murmurando:
As gottas, que das alvas pedras sáltão,
O prado, como pérolas, esmaltão.
Da caça ja cansada
Busca a casta Titanica a espessura,
Onde á sombra inclinada
Logre o doce repouso da verdura,
E sôbre o seu cabello ondado e louro
Deixe cahir o bosque o seu thesouro.
O ceo desimpedido
Mostrava o lume eterno das estrellas;
E de flores vestido
O campo, brancas, roxas e amarellas,
Alegre o bosque tinha, alegre o monte,
O prado, o arvoredo, o rio, a fonte.
Porém como o menino,
Que a Jupiter por a aguia foi levado,
No cêrco crystallino{390}
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