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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/58

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louvar senão quem o merecesse. Donde resultou que censurados e não-louvados se unírão para o desgraçarem e perderem. E se antes de publicar o seu poema, ja na India o perseguírão, muito peor lhe havia de succeder depois; e isso mui bem prevío elle, quando o estava ordindo; pois que, tendo invocado no principio da obra somente as Nymphas do Tejo; no fim do Canto VII, quando ia concluir a narração dos feitos antigos para passar aos contemporaneos, pede auxilio tambem ás do Mondego, dizendo (Est. 78):
               Mas oh cego!
Eu que commetto insano e temerario
Sem vós, Nymphas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão arduo longo e vario!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar com vento tão contrario,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.
e depois (Estancia 83):
Pois logo em tantos males he forçado
Que se vosso favor me não falleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça.
Dai-mo vós sós, que eu tenho ja jurado
Que não o empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.
Mas não obstante conhecer a quanto se expunha, respeitando mais a fama posthuma, que a ira dos poderosos, como se vio restituido á patria, cuidou em imprimir o seu Poema. Porém algum obstaculo encontrou, porque dous annos esteve sem sahir com elle á luz.{