dos Senhores Inquisidores. Que felicidade não he (dizia o grande Tacito) nascer o homem em tempos, em que lhe he permittido sentir como quizer, e exprimir o que sente!
Compradas por um tal preço as licenças, e obtido privilegio, em 1572 sahio finalmente á luz este maravilhoso e desgraçado Poema, não como queria o poeta, mas como os sabios Censores quizerão que apparecesse; e póde ser que os muitos e notaveis erros de impressão que desfigurão as duas edições que nesse mesmo anno se fizerão, procedessem de que desgostado o autor de ver assim estragada a sua obra, não quizesse cansar-se com a revisão das provas.
Achamos em escritores contemporaneos que ElRei por esta publicação lhe fizera mercê de uma tença de 15$ reis mensaes, com a clausula inaudita de tirar para a sua cobrança provisão cada tres annos, e de residir na Corte. Mas se assim foi, não foi logo, senão alguns annos depois, porque no de 1575 em uma Epistola que o poeta lhe dirigio, juntamente (ao que parece) com um exemplar do seu Poema, por occasião de uma setta que o Papa Gregorio XIII enviou a este Rei, ainda elle lhe supplicava se dignasse dar-lhe algum premio, se não por justiça, ao menos por caridade, como se vê dos seguintes versos:
Estes humildes versos, que pregão
São destes vossos Reinos com verdade,
Tenhão, se não merecem galardão,
Favor sequer da Regia Magestade:
Assim tenhais de quem ja tendes tanto,
Com o nome e reliquia, favor santo.{LVII}
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