Em formosa Lethea se confia,
Por onde vaidade tanta alcança,
Que, tornada em soberba a confiança,
Com os deoses celestes competia.
Porque não fosse avante esta ousadia,
(Que nascem muitos erros da tardança)
Em effeito puzerão a vingança
Que tamanha doudice merecia.
Mas Oleno, perdido por Lethea,
Não lhe soffrendo Amor que supportasse
Duro castigo em tanta formosura,
Quiz a pena tomar da culpa alhea:
Mas, porque a Morte Amor não apartasse,
Ambos tornados são em pedra dura.
Males, que contra mim vos conjurastes,
Quanto ha de durar tão duro intento?
Se dura, porque dure meu tormento,
Baste-vos quanto ja me atormentastes.
Mas se assi porfiais, porque cuidastes
Derribar o meu alto pensamento,
Mais póde a causa delle, em que o sustento,
Que vós, que della mesma o ser tomastes.
E pois vossa tenção com minha morte
He de acabar o mal destes amores,
Dai ja fim a tormento tão comprido.
Assi de ambos contente será a sorte;
Em vós por acabar-me, vencedores,
Em mim porque acabei de vós vencido.