Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v1.djvu/220

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O mundo tem razão, sisudo pensa...
E a turba tem um cérebro sublime!
De que vale um poeta?... um pobre louco
Que leva os dias a sonhar?... insano
Amante de utopias e virtudes
E, num templo sem Deus, ainda crente?

A poesia é decerto uma loucura:
Sêneca o disse, um homem de renome.
É um defeito no cérebro... Que doUdos!
É um grande favor, é muita esmola
Dizer-lhes — bravo! à inspiração divina...
E, quando tremem de miséria e fome,
Dar-lhes um leito no hospital dos loucos...
Quando é gelada a fronte sonhadora
Por que há de o vivo, que despreza rimas,
Cansar os braços arrastando um morto,
Ou pagar os salários do coveiro?
A bolsa esvaziar por um misérrimo,
Quando a emprega melhor em lodo e vício? ...
E que venham aí falar-me em Tasso!
Culpar Afonso d'Est — um soberano,
Por não lhe dar a mão da irmã fidalga!
Um poeta é um poeta: apenas isso...
Procure para amar as poetisas.