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Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/193

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Busque-se o seu cadáver, e entre os nossos
Honrada sepultura achem seus ossos.

Aqui chegava, quando a comitiva,
Desde o vizinho monte, viva! viva!
Bradava em altas vozes; cresce o espanto;
Ambos se admiram; de alarido tanto
A causa buscam; pouco tempo tarda
Em recolher-se a dividida guarda,
Com salvas, e com vivas festejando
A presa, que já vem apresentando.

Três índias são, que do Pori robusto
Em resto escapam; todo o corpo adusto
Mostra que o Sol sobre a nudez queimara,
E que a ingênita cor de branca e clara
Tornou um pouco escura; a longa idade
A todas três enruga a mocidade;
Curvos os ombros, poucas cãs, os braços
Murchos e descarnados, mal os passos
Regem tremendo; breve arrimo fazem
De tintos paus, que apenas nas mãos trazem.

Tecendo a teia na morada escura
Do negro Radamanto, outra figura
Não inculcara mais enorme e triste
O termo horrendo, que aos mortais assiste.
Conta Camargo, que o vizinho monte
Subira com os seus, e que de ponte
Um madeiro, que o tempo derribara,
Lhe servira, e por ele além passara,
Que desde ali por entre as brenhas via
Uma pequena Aldeia, a quem fazia
Baixa e comprida choça a cobertura