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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
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os seus blocos erráticos, testemunham a presença das geleiras que ùltimamente ainda ocupavam os vales. O clima da Europa tem mudado tão consideràvelmente que, no norte da Itália, os cômoros gigantescos deixados pelas antigas geleiras estão actualmente cobertos de vinhas e milheirais. Numa grande parte dos Estados Unidos, blocos erráticos e rochas estriadas revelam claramente a existência passada de um período de frio.

Vamos indicar, em poucas palavras, a influência que exerceu outrora a existência de um clima glacial na distribuição dos habitantes da Europa, segundo a admirável análise feita por E. Forbes. Para melhor compreender as modificações causadas por este clima, supusemos a aparição de um novo período glaciário começando lentamente, depois desaparecendo, como devia ter produzido outrora. À medida que o frio aumenta, as zonas mais meridionais tornam-se mais próprias para receber os habitantes do Norte; estes dirigem-se para aí e substituem as formas das regiões temperadas que lá se encontravam primeiramente. Estas últimas, por seu turno e pela mesma razão, descem cada vez mais para o Sul, salvo se forem impedidas por algum obstáculo, caso em que morrem. Cobrindo-se as montanhas de neves e de gelo, as formas alpinas descem para as planícies, e, quando o frio tiver atingido o seu máximo, uma fauna e uma flora árcticas ocuparão toda a Europa central até aos Alpes e Pirenéus, estendendo-se mesmo até Espanha. As partes actualmente temperadas dos Estados Unidos seriam igualmente povoadas de plantas e animais árcticos, que seriam quase idênticas às da Europa; porque os habitantes actuais da zona glacial. que, por toda a parte, teriam emigrado para o sul, são notàvelmente uniformes em volta do pólo.

Na volta do calor, as formas árcticas retirar-se-ão para o norte, seguidas na retirada pelas produções das regiões mais temperadas. A medida que a neve deixar o sopé das montanhas, as formas árcticas apoderar-se-ão deste terreno livre, e subirão sempre cada vez mais pelos flancos à medida que, aumentando o calor, a neve se funda a uma maior altura, enquanto que as outras continuarão a subir para o norte. Por conseguinte, quando o calor voltar por completo, as mesmas espécies que tiverem vivido precedentemente nas planícies da Europa e da América do Norte encontrar-se-ão tanto nas regiões árcticas do antigo e do novo mundo, como nos vértices de montanhas muito afastadas entre si.

Assim se explica a identidade de numerosas plantas que habitam pontos muito distantes como são as montanhas dos Estados Unidos e as da Europa. Assim se explica também o