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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
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Se bem que, nas ilhas oceânicas, as espécies são pouco numerosas, a proporção das espécies endémicas, isto é, as que se não encontram noutra parte do globo, é muitas vezes muito grande. Pode estabelecer-se a verdade desta asserção comparando, por exemplo, a relação entre a superfície dos terrenos e o número de conchas terrestres especiais à ilha da Madeira, ou o número das aves endémicas do arquipélago Galápagos com o número das que habitam um continente qualquer. De resto, este facto podia ser teòricamente previsto, porque, como já temos explicado, espécies vindo de longe a longe para um distrito isolado e novo, e tendo de entrar em luta com novos concorrentes, devem estar grandemente sujeitas a modificar-se e devem muitas vezes produzir grupos de descendentes modificados. Mas de que, numa ilha, quase todas as espécies de uma classe são particulares a esta estação, não resulta necessàriamente que as de outra classe ou de outra secção da mesma classe o devem ser também; esta diferença parece provir em parte de que as espécies não modificadas emigraram em grupo, de modo que as suas relações recíprocas não sofreram mais que pequena perturbação, e, em parte, pela chegada frequente de imigrações não modificadas, vindas da mesma pátria, com as quais se cruzaram as formas insulares.

É necessário não esquecer que os descendentes de semelhantes cruzamentos devem ganhar quase com certeza em vigor, de tal modo que um cruzamento acidental bastaria para produzir efeitos mais consideráveis do que se poderia esperar. Eis alguns exemplos em apoio das notas que precedem. Nas ilhas Galápagos, encontram-se vinte e seis espécies de aves terrestres, de que vinte e uma, ou talvez mesmo vinte e três, são particulares a estas ilhas, enquanto que, em onze espécies marinhas, duas sòmente são próprias do arquipélago; é evidente, com efeito, que as aves marinhas podem arribar a estas ilhas muito mais fàcilmente e muitas mais vezes do que as aves terrestres. As Bermudas, ao contrário, que estão situadas quase à mesma distância da América do Norte que as Galápagos da América do Sul, e que têm um solo, muito particular, não possuem uma só ave terrestre endémica; mas sabemos, pela bela descrição das Bermudas que devemos a M. J. M. Jones, que um grande número de aves da América do Norte visitam frequentemente esta ilha. M. E. V. Harcourt ensina-me que, quase todos os anos, os ventos arrastam até à Madeira muitas aves da Europa e da Africa. Esta ilha é habitada por noventa e nove espécies de aves, de que uma só lhe é própria, se bem que muito estreitamente aliada a uma espécie europeia; três ou quatro outras espécies são limi-