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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
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faculdade bem mais importante de poder, num solo estranho, sustentar a luta pela existência contra as formas que o habitam. Mas na hipótese de todas as espécies de um mesmo género, se bem que actualmente repartidas por diversos pontos do globo quase sempre muito distantes uns dos outros, derivarem de um único antepassado, devíamos poder verificar, e verificamos geralmente, com efeito, que algumas espécies pelo menos apresentam uma distribuição considerável.

Devemo-nos lembrar que muitos géneros em todas as classes são muito antigos e que as espécies que contêm tiveram, por isso, amplamente o tempo de se disseminar e sofrer grandes modificações ulteriores. Os documentos geológicos parecem provar também que os organismos inferiores, a qualquer classe que pertençam, modificam-se menos ràpidamente que aqueles que estão mais elevados na escala; estes organismos têm, por conseguinte, mais probabilidades de se dispersar mais largamente, conservando por completo os mesmos caracteres específicos. Demais, as sementes e os ovos de quase todos os organismos inferiores são muito pequenos, e por isso mais próprios a ser transportados ao longe; estas duas causas explicam provávelmente uma lei formulada de há muito e que Afonso de Candolle recentemente discutiu no que respeita às plantas, a saber: quanto mais baixo for na escala o lugar de um grupo de organismos, mais a sua distribuição é considerável.

Todas as relações que acabámos de examinar, isto é, a maior disseminação das formas inferiores, comparativamente à das formas superiores; a distribuição considerável das espécies fazendo parte dos próprios géneros muito largamente espalhados; as relações que existem entre as produções alpinas, lacustres, etc., e as que habitam as regiões baixas circunvizinhas; o íntimo parentesco que liga os habitantes das ilhas aos da terra firme mais próxima; o parentesco mais estreito ainda entre os habitantes distintos das ilhas que fazem parte do mesmo arquipélago, são outros tantos factos que a teoria da criação independente de cada espécie não permite explicar; torna-se fácil compreendê-los se admitirmos a colonização pela fonte mais vizinha ou mais acessível, junta a uma adaptação ulterior dos imigrantes às condições da sua nova pátria.

RESUMO DESTE CAPÍTULO E DO ANTECENDENTE

As dificuldades que parecem opor-se à hipótese em virtude da qual todos os indivíduos da mesma espécie, onde quer que