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AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGANIZADOS
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descendentes modificados representados pelos quinze géneros (a14 a z14) que ocupam a linha horizontal superior. Todos estes descendentes modificados de uma só espécie são parentes entre si no mesmo grau; poderiam, metafòricamente, chamar-se primos no mesmo milionésimo grau; contudo, diferem muito uns dos outros e em pontos de vista diversos. As formas derivadas de A, agora divididas em duas ou três famílias, constituem uma ordem distinta da que compreende as formas derivadas de I, também dividida em duas famílias. Não mais se poderiam classificar no género A as formas actuais que dela derivaram, nem no género I as que derivaram deste. Mas pode supor-se que o género existente F14 não foi senão pouco modificado, e poderá agrupar-se no género primitivo F de onde saiu; é assim que alguns organismos ainda vivos pertencem a géneros silúricos. De modo que o valor comparativo das diferenças entre estes seres organizados, todos parentes uns dos outros no mesmo grau de consanguinidade, pode ter sido muito diferente. O seu arranjo genealógico não ficou menos rigorosamente exacto, não sòmente hoje, mas também em cada período genealógico sucessivo. Todos os descendentes modificados de A terão herdado alguma coisa de comum com o pai comum, terá sido o mesmo para todos os descendentes de I, e ainda o mesmo se terá dado para cada ramo subordinado dos descendentes em cada período sucessivo. Se, todavia, supusermos que cada descendente de A ou de I seja bastante modificado para não mais conservar vestígios do seu parentesco, o seu lugar no sistema natural será perdido, como parece dever ser o caso para alguns organismos existentes. Todos os descendentes do género F, em toda a série genealógica, formarão apenas um só género, visto que supomos que são pouco modificados; mas este género, ainda que muito isolado, não ocupará menos a posição intermédia que lhe é própria. A representação dos grupos indicada na figura sobre uma superfície plana é muito mais simples. Os ramos deveriam divergir em todas as direcções. Se nos limitássemos a colocar em série linear os nomes dos grupos, leríamos menos ainda podido figurar um arranjo natural, porque é evidentemente impossível representar por uma série sobre uma superfície plana, as afinidades que se observam na natureza entre os seres do mesmo grupo. Assim, pois, o sistema natural ramificado assemelha-se a uma árvore genealógica; mas a soma das modificações sofridas pelos diferentes grupos deve exprimir o seu arranjo pelo que se chamam géneros, subfamilias, famílias, secções, ordens e classes.

Para melhor fazer compreender esta exposição da classifica-