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ORIGEM DAS ESPÉCIES

áfis, no desenvolvimento das quais, segundo os belos desenhos do professor Huxley, quase se não encontram vestígios de um estado vermiforme.

Por vezes, são somente as primeiras fases do desenvolvimento que fazem falta. Assim Fritz Miller fez a notável descoberta de que certos crustáceos, aliados aos Penoeus, e semelhando lagostas, aparecem a princípio com a forma simples de Nauplias, em seguida, depois de terem passado por dois ou três estados da forma Zoé, e, enfim, pelo estado de Mysis, adquirem a sua conformação adulta. Ora, na grande classe dos malacostráceos, à qual pertencem estes crustáceos, não se conhece nenhum outro elemento que se desenvolva a princípio com a forma de náuplia, se bem que muitos apareçam com a de zoé; não obstante, Müller dá razões de natureza a fazer crer que todos estes crustáceos teriam aparecido como náuplias, se não houvesse uma supressão de desenvolvimento.

Como, pois, explicar estes diversos factos da embriologia? Como explicar a diferença tão geral, mas não universal, entre a conformação do embrião e a do adulto; a semelhança, nos começos da evolução, das diversas partes do mesmo embrião, que devem tornar-se, mais tarde, inteiramente dessemelhantes e servir a funções muito diversas; a semelhança geral, mas não invariável, entre os embriões ou as larvas das espécies mais distintas numa mesma classe; a conservação, no embrião ainda no ovo ou no útero, de conformações que lhe são inúteis neste período assim como num período mais tardio da vida; o facto de, por outra parte, as larvas que têm de prover às próprias necessidades, se adaptarem perfeitamente às condições ambientes; enfim, o facto de certas larvas se encontrarem colocadas mais alto na escala da organização que os animais adultos que são o termo final das suas transformações? Creio que estes diversos factos podem explicar-se da maneira seguinte.

Supõe-se ordinàriamente, talvez porque certas monstruosidades afectam muito cedo o embrião, que as ligeiras variações ou as diferenças individuais aparecem necessàriamente numa época muito precoce. Temos apenas poucas provas sobre este ponto, mas algumas que possuímos indicam certamente o contrário; é sabido, com efeito, que os tratadores de gado, de cavalos e de diversos animais de luxo, só podem dizer positivamente, depois de um certo tempo após o nascimento, quais serão as qualidades ou os defeitos de um animal. Notamos o mesmo facto nas próprias crianças; porque não podemos desde logo dizer se serão altas ou baixas, nem quais serão precisamente os seus traços. A questão não é saber em que época da vida cada varia-