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ORIGEM DAS ESPÉCIES

são, por isso, unidos entre si por um laço de parentesco. A comunhão de conformação embrionária revela, pois, uma comunhão de origem; mas a dessemelhança do desenvolvimento embrionário não prova o contrário, porque pode suceder que, em um ou dois grupos, algumas fases do desenvolvimento tenham sido suprimidas ou tenham sofrido, para se adaptar a novas condições de existência, modificações tais que não são mais reconhecíveis. A conformação da larva revela, muitas vezes, uma comunhão de origem para os mesmos grupos cujas formas adultas foram modificadas em grau extremo; assim, vimos que as larvas dos cirrípedes nos dizem imediatamente que pertencem à grande classe dos crustáceos, posto que no estado adulto sejam exteriormente análogas às conchas. Como a conformação do embrião nos indica quase sempre, de uma maneira mais ou menos nítida, o que devia ter sido a conformação do ascendente muito antigo e menos modificado do grupo, podemos compreender porque se parecem muitas vezes, no estado adulto, as formas extintas e subindo a um passado longínquo, com os embriões das espécies actuais da mesma classe. Agassiz considera como universal na natureza esta lei de que a verdade será, confio, demonstrada no futuro. Esta lei não pode, contudo, ser provada a não ser no caso do antigo estado do ascendente do grupo não ter sido totalmente afectado, quer por variações sucessivas sobrevindas durante as primeiras fases do crescimento, quer por variações tornadas hereditárias nos descendentes numa idade mais precoce que a da sua aparição primeira. Devemos lembrar-nos também que a lei pode ser verdadeira, mas, contudo, não ser ainda por muito tempo, se o chegar a ser, susceptivel de uma demonstração completa, por falta de documentos geológicos que vão até uma época muito distante. A lei não se verificará nos casos em que uma forma antiga no estado de larva se tenha adaptado a algum hábito especial, e tenha transmitido este mesmo estado ao grupo inteiro dos seus descendentes; estas larvas, com efeito, não podem assemelhar-se a qualquer forma mais antiga no estado adulto.

Os principais factos de embriologia parecem, pois, explicar-se pelo princípio de que modificações sobrevindas em numerosos descendentes de um ascendente primitivo não têm surgido desde as primeiras fases da vida de cada um deles, e que estas variações são transmitidas por hereditariedade em idade correspondente. A embriologia adquire um grande interesse, se considerarmos o embrião como um retrato mais ou menos apagado de um ascendente comum, no estado de larva ou no estado adulto, de todos os membros de uma mesma grande classe.