Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/212

Wikisource, a biblioteca livre

Jorge conservava-se serio e reservado, como estivera toda a manhã.

Mauricio fazia esforços para mostrar-se despreoccupado, porém mal o conseguia.

Para o fim do jantar percebia-se pelo tom de algumas risadas e pelo theor de algumas conversas, que os restos da garrafeira da Casa Mourisca não tinham desmentido os seus antigos creditos, firmados em tantas façanhas.

Os primos do Cruzeiro sobre todos fallavam em um tom de voz, que mais do que uma vez attrahira as geraes attenções e fizera contrahir o sobr'olho a D. Luiz.

A cada momento as allusões a Jorge, que elles entremeiavam nos seus informes discursos, tinham obrigado a maioria dos olhares a convergirem para o filho mais velho de D. Luiz, que os arrostava com uma serenidade desprezadora.

Encetaram-se os brindes. Brindou-se a baroneza, brindaram-se na pessoa dos seus chefes as familias illustres alli presentes, brindaram-se os caudilhos do partido realista, brindou-se em honra da sancta causa, em honra da imprensa fiel, em honra das velhas instituições, em honra do throno e do altar e de muitas outras coisas.

Frei Januario, para mostrar o seu fervor, esgotava o calix a cada brinde, e aproveitava os intervallos para fazer com os collegas, a meia voz, os seus brindes particulares.

Já quando os animos estavam um pouco excitados por estas successivas libações, o primo padre levantou-se, e com os olhos injectados e o gesto um tanto transtornado, disse:

— Meus senhores, tenho notado que o primo Jorge está com um ataque de melancolia, de que não póde livrar-se. Os brindes que aqui se teem feito ainda o não desanuviaram. É verdade que se brindaram familias antigas e coisas velhas, e o passado não é lá das ideias mais alegres. Eu por isso vou propôr um brinde menos soturno, a vêr se o distraio. Bebo á saude do Thomé da Herdade e da sua familia, com particular menção da me-