Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/309

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final convencido de que, apesar de todos os perigos da vida da capital, é esse um passo preferivel a deixal-o permanecer aqui, no seio da ociosidade que, como sabes, é a mãe dos vicios todos.

— N'esse caso principia hoje a lucta. Eu declaro que não parto.

— Devéras?

— Devéras. A minha sorte está decidida, prima. E qualquer que seja o resultado d'esta resolução...

— Mas, vamos a saber, primo Mauricio, e Bertha?... (porque me parece que se tracta de Bertha) e Bertha corresponde-te?

— Creio que sim. Por timidez procura fugir-me, ou por desconfiança talvez. Por isso mesmo hei de provar-lhe que sou sincero, e que atravez de todos os preconceitos...

— Está a tentar-te o papel de Romeu, é o que estou vendo. Desconfio da sinceridade d'essa exaltação.

— Pois verá.

— Ora ponhamos as coisas no seu logar. Não principies tu a phantasiar escaramuças de Montechi e Capuletti, que provavelmente não terão logar, com grande damno das feições romanticas do caso. A coisa ha de passar-se mais prosaicamente, como hoje se passa tudo. O primo Mauricio, depois de uns arrufos do tio Luiz, havia de, mais anno menos anno, vêr sanccionado por elle o seu casamento. Muito bem. Ahi o tinhamos patriarcha rural, burguezamente installado na lareira da Herdade, com os filhos a treparem-lhe aos joelhos, e conversando em sancta paz com o papá Thomé e com a mamá Luiza, ouvindo o estalar das pinhas, e abrindo a bôca de somno, quando a ceia se demorasse alguns minutos além das nove horas. Por este mesmo tempo, outros rapazes da sua idade, e talvez com menos aptidão do que elle, caminhariam por entre os fulgores da moda, da elegancia e da gloria, conhecidos e apreciados nos circulos onde radia a intelligencia e onde as brilhantes qualidades do espirito encontram sempre em que se exercerem. Não chegariam a este solitario Mauricio ás vezes umas inve-