Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/312

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— Mas creia que eu sou um inexperiente. Fóra d'estes ares sentir-me-ia embaraçado.

— Eu prometto acompanhar-te nos primeiros passos.

— Sómente nos primeiros?

Maurício fez a pergunta com uma entonação de voz e com um olhar, que causaram estranheza a Gabriella.

Fitou-o, como para perscrutal-o, e depois com um sorriso malicioso nos labios, tornou-lhe:

— Pareceu-me perceber uma musica de galanteio n'essa pergunta? Vê lá. Pois nem eu te merecerei indulgencia e contemplação?


— Demasiada contemplação me tem merecido até, e Deus sabe se por meu mal.

— Um calembourg ao que percebo. Bonito. Onde está aquelle fiel Romeu de ainda agora? Se eu insistisse, era capaz de te arrancar uma declaração formal, estou vendo.

— Tem razão para zombar, prima, porém...

— Previno-te, Mauricio, de que não vale a pena perder o tempo commigo. Eu tenho uma maneira prompta e rasgada de tractar as coisas, que se não compadece com as longuras e alternativas de um galanteio a teu modo. Bem vês que já não sou criança de quinze annos, e que perdi a paciencia d'essa idade. Mas vamos almoçar, que nos estão chamando.

Durante o almoço, ao qual não assistiu D. Luiz, a conversa resumiu-se em observações de critica e analyse culinaria de frei Januario e nas glosas laconicas de Gabriella, que pôz final á prelecção, levantando-se da mesa e ordenando que lhe apparelhassem a egoa para um passeio.

Quando, momentos depois, descia ao pateo, apanhando a longa cauda do seu vestido de amazona, encontrou Mauricio, que parecia esperal-a para a ajudar a montar e por ventura para lhe servir de jockey.

— Então que quer dizer isto? Encarregaste-te agora das funcções de monteiro-mór? — perguntou-lhe Gabriella.

— Se me permitte que desempenhe estas funcções, muito me honrarei com ellas.