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A baroneza via-se pois obrigada a transferir indefinidamente o seu projecto de deixar a aldeia.

Comtudo cada dia que se demorava nos Bacellos contava-o ella como uma probabilidade menos a favor dos seus planos!

Esta difficil situação em que se via, obrigou-a a pensar seriamente no partido que devia adoptar.

Era preciso descobrir um meio de abandonar a aldeia e voltar a Lisboa, sem causar a D. Luiz o desgosto e a pena que, no estado de saude e de espirito em que o via, ella receiava que lhe podésse ser fatal.

Uma manhã foi ella procurar o seu primo Jorge, muito convencida de que tinha emfim descoberto o expediente que procurava.

Jorge trabalhava com uma actividade febril, depois que se ajustára o casamento de Bertha. Parecia querer procurar no trabalho uma embriaguez que lhe amortecesse as dôres do coração, que aquelle facto lhe produzira. Mas a violencia do esforço cançava-o, e bem claro o revelava na pallidez e depressão da physionomia.

Gabriella não pôde deixar de fazer uma observação mal o viu aquella manhã:

— É preciso cautela, primo Jorge. Nada de trabalho immoderado! Lembra-te de que a tua constituição não é para taes fadigas.

— Porque me diz isso?

— Porque te estou lendo no rosto a necessidade de ar livre, de sol, de exercicio e de distracção do pensamento.

— Effeitos de uma noite mal passada. Eu não me sinto cançado.

— Embora. Sê prudente. Olha que o bom exito dos teus planos depende da tua perseverança, e a perseverança está mais na continuação dos esforços do que na violencia d'elles.

— Creia que me sei poupar.

— Muito bem. Agora farás o favor de fechar esses livros e de me escutar, porque tenho que te dizer.

— Ás suas ordens — respondeu Jorge obedecendo-lhe.