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OS MAIAS

Mas o menino, mollengão e tristonho, não se descollava das saias da titi: teve ella de o pôr de pé, amparal-o, para que o tenro prodigio não alluisse sobre as perninhas flacidas; e a mamã prometteu-lhe que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ella...

Isto decidio-o: abrio a bocca, e como d’uma torneira lassa veio de lá escorrendo, n’um fio de voz, um recitativo lento e babujado:

É noite, o astro saudoso
Rompe a custo um plumbeo céu,
Tolda-lhe o rosto formoso
Alvacento, humido véo...

Disse-a toda — ­sem se mexer, com as mãosinhas pendentes, os olhos mortiços pregados na titi. A mamã fazia o compasso com a agulha do crochet; e a viscondessa, pouco a pouco, com um sorriso de quebranto, banhada no langor da melopea, ia cerrando as palpebras.

— ­Muito bem, muito bem! exclamou o Villaça, impressionado, quando o Euzebiosinho findou coberto de suor. Que memoria! Que memoria! É um prodigio!...

Os creados entravam com o chá. Os parceiros tinham findado a partida; e o bom Custodio, de pé, com a sua chavena na mão, queixava-se amargamente da maneira porque aquelles senhores o tinham esfollado.

Como ao outro dia era domingo, e havia missa