me contou. Assim temos um documento. Eu não sei mais do que ahi está escripto. Póde V. Ex.ª ler...
Affonso desdobrou as duas folhas de papel. Era uma historia simples, que o Alencar, o poeta das Vozes d’Aurora, o estylista de Elvira, ornára de flores e de galões dourados como uma capella em dia de festa.
Uma noite, ao sahir da Maison d’Or, elle vira a Monforte saltar d’um coupé com dois homens de gravata branca; tinham-se logo reconhecido; e um momento ficaram hesitando, um defronte do outro, debaixo do candieiro de gaz, no trottoir. Foi ella que, muito decidida, rindo, estendeu a mão ao Alencar, pediu-lhe que a visitasse, deu-lhe a adresse, o nome por que devia perguntar: M.me de l’Estorade. E no seu boudoir, na manhã seguinte a Monforte fallou largamente de si: vivera tres annos em Vienna d’Austria com Tancredo, e com o papá que se lhes fôra reunir — e que lá continuava de certo, como em Arroios, refugiando-se pelos cantos das salas, pagando as toilettes da filha, e dando palmadinhas ternas no hombro do amante como outr’ora no hombro do marido. Depois tinham estado em Monaco; e ahi, dizia o Alencar, «n’um drama sombrio de paixão que ella me fez entrever» o napolitano fora morto em duello. O papá morrera tambem n’esse anno, deixando apenas da sua fortuna uns magros contos de réis, e a mobilia da casa em Vienna: o velho arruinara-se com o luxo da filha, com as viagens, com as perdas de Tancredo ao baccarat. Passára então um