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OS MAIAS

paga, a parenta dos Medina-Cœli, o Lirio d’Israel, a admiradora dos Bourbons, foi recambiada a Lisboa e á rua de S. Roque, seu elemento natural.

Em agosto, no acto da formatura de Carlos, houve uma alegre festa em Cellas. Affonso viera de Santa Olavia, Villaça de Lisboa; toda a tarde no quintal, d’entre as acacias e as bella-sombras, subiram ao ar mólhos de foguetes; e João da Ega, que levára o seu ultimo R no seu ultimo anno, não descansou, em mangas de camisa, pendurando lanternas venezianas pelos ramos, no trapesio e em roda do poço, para a illuminação da noite. Ao jantar, a que assistiam lentes, Villaça, enfiado e tremulo, fez um speech; ia citar o nosso immortal Castilho quando sob as janellas rompeu, a grande ruido de tambor e pratos, o Hymno Academico. Era uma serenata. — ­Ega, vermelho, de batina desabotoada, a luneta para traz das costas, correu á sacada, a perorar:

— ­Ahi temos o nosso Maia, Carolus Eduardus ab Maia, começando a sua gloriosa carreira, preparado para salvar a humanidade enferma — ­ou acabar de a matar, segundo as circumstancias! A que parte remota d’estes reinos não chegou já a fama do seu genio, do seu dog-cart, do sebaceo accessit que lhe ennodôa o passado, e d’este vinho do Porto, contemporaneo dos heroes de 20, que eu, homem de revolução e homem de carraspana, eu, João da Ega, Johanes ab Ega...

O grupo escuro em baixo desatou aos vivas. A philarmonica, outros estudantes, invadiram os Paços.