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OS MAIAS

real, a cambada dos ministros, dos politicos, dos deputados, dos intrigantes, etc. e etc.

Carlos sorria, ás vezes argumentava com elle.

— ­Mas está o sr. Vicente bem certo, que apenas a cambada, como tão exactamente diz, desapparecesse pela barra fóra, ficavam resolvidas todas as cousas e tudo atolado em felicidade?

Não, o sr. Vicente não era tão «burro» que assim pensasse. Mas, supprimida a cambada, não via s. ex.ª? Ficava o paiz desatravancado; e podiam então começar a governar os homens de saber e de progresso...

— ­Sabe v. ex.ª qual é o nosso mal? Não é má vontade d’essa gente; é muita somma de ignorancia. Não sabem. Não sabem nada. Elles não são maus, mas são umas cavalgaduras!

— ­Bem, então essas obras, amigo Vicente, dizia-lhe Carlos, tirando o relogio e despedindo-se d’elle com um valente shakehands, veja se me andam. Não lh’o peço como proprietario, é como correligionario.

— ­D’aqui a dois dias ha de v. ex.ª vêr a differença, respondia o mestre d’obras, desbarretando-se.

No Ramalhete, pontualmente ao meio dia, tocava a sineta do almoço. Carlos encontrava quasi sempre o avô já na sala de jantar, acabando de percorrer algum jornal junto ao fogão, onde a tepida suavidade d’aquelle fim de outono não permittia accender lume, mas verdejando todo de plantas d’estufa.

Em redor, nos aparadores de carvalho lavrado, rebrilhavam suavemente, no seu luxo macisso e sobrio, as baixellas antigas; pelas tapeçarias ovaes dos muros