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OS MAIAS


— ­Está ahi o carro? ía perguntar ao creado.

Accendia bem depressa outro charuto, calçava as luvas, descia, bebia um largo sorvo de luz e ar, tomava as guias e largava, murmurando comsigo:

— ­Dia perdido!

Foi uma d’essas manhãs que preguiçando assim no sophá com a Revista dos Dois Mundos na mão, elle ouviu um rumor na antecamara, e logo uma voz bem conhecida, bem querida, que dizia por trás do reposteiro:

— ­Sua Alteza Real está visivel?

— ­Oh Ega! gritou Carlos, dando um salto do sophá.

E cahiram nos braços um do outro, beijando-se na face, enternecidos.

— ­Quando chegaste tu?

— ­Esta manhã. Caramba! exclamava Ega, procurando pelo peito, pelos hombros, o seu quadrado de vidro, e entalando-o emfim no olho. Caramba! Tu vens esplendido d’esses Londres, d’essas civilisações superiores. Estás com um ar Renascença, um ar Valois... Não ha nada como a barba toda!

Carlos ria, abraçando-o outra vez.

— ­E d’onde vens tu, de Celorico?

— ­Qual Celorico! Da Foz. Mas doente, menino, doente... O figado, o baço, uma infinidade de visceras compromettidas. Emfim, doze annos de vinhos e aguas ardentes...