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OS MAIAS
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— ­No Universal, esse sanctuario!

Carlos abominava o Universal, queria que elle viesse para o Ramalhete.

— ­Não me convém...

— ­Em todo o caso vaes hoje lá jantar, vêr o avô.

— ­Não posso. Estou compromettido com a besta do Cohen... Mas vou lá ámanhã almoçar.

Já nos degraus da escada, voltou-se, entalou o monocolo, gritou para cima:

— ­Tinha-me esquecido dizer-te, vou publicar o meu livro!

— ­O quê! está prompto? exclamou Carlos, espantado.

— ­Está esboçado, á brocha larga...

O Livro do Ega! Fôra em Coimbra, nos dois ultimos annos, que elle começára a fallar do seu livro, contando o plano, soltando titulos de capitulos, citando pelos cafés phrases de grande sonoridade. E entre os amigos do Ega discutia-se já o livro do Ega como devendo iniciar, pela fórma e pela idéa, uma evolução litteraria. Em Lisboa (onde elle vinha passar as ferias e dava ceias no Silva) o livro fôra annunciado como um acontecimento. Bachareis, contemporaneos ou seus condiscipulos, tinham levado de Coimbra, espalhado pelas provincias e pelas ilhas a fama do livro do Ega. Já de qualquer modo essa noticia chegára ao Brazil... E sentindo esta anciosa espectativa em torno do seu livro — ­o Ega decidira-se emfim a escrevel-o.

Devia ser uma epopêa em prosa, como elle dizia,