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OS MAIAS

— ­Não, palavra, tinha vontade de quebrar a cara áquelle folliculario!

— ­E porque lh’a não quebras?

— ­É um amigo dos Cohens.

E foi grunhindo improperios contra a imprensa, a passos de tigre pelo gabinete. Por fim irritado com a indifferença de Carlos:

— ­Que diabo estás tu ahi a ler? Nature parasitaire des accidents de l’impaludisme... Que blague, a medicina! Dize-me uma cousa. Que diabo serão umas picadas que me veem aos braços, sempre que vou a adormecer?...

— ­Pulgas, bichos, vermina... — ­murmurou Carlos com os olhos no livro.

— ­Animal! rosnou Ega, arrebatando o chapéu.

— ­Vaes-te, John?

— ­Vou, tenho que fazer! — ­E junto do reposteiro, ameaçando o céu com o guarda-chuva, chorando quasi de raiva: — ­Estes burros d’estes jornalistas! São a escoria da sociedade!

D’ahi a dez minutos reappareceu, bruscamente: e já com outra voz, n’um tom de caso serio:

— ­Ouve cá. Tinha-me esquecido. Tu queres ser apresentado aos Gouvarinhos?

— ­Não tenho um interesse especíal, respondeu Carlos, erguendo os olhos do livro, depois de um silencio. Mas não tenho tambem uma repugnancia especial.

— ­Bem, disse Ega. Elles desejam conhecer-te, sobretudo a condessa faz empenho... Gente intelligente,