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OS MAIAS
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gente, que ao jantar, diante do escudeiro, quebrava a porcelana, mandava á tabua o titulo dos antepassados. E perguntou:

— ­Que diz o sr. Pimenta da senhora condessa, Baptista? Ella diverte-se?

— ­Creio que não, meu senhor. Mas a creada de confiança d’ella, uma escosseza, essa é desobstinada. E não fica bem á senhora condessa ser assim tão intima com ella...

Houve um silencio no quarto, a chuva cantou mais forte nos vidros.

— ­Passando a outro assumpto, Baptista. Vamos a saber, ha quanto tempo, não escrevo eu a madame Rughel?

Baptista tirou do bolso interior da sua casaca um livro de apontamentos, aproximou-se da luz, encavalou a luneta no nariz, e verificou, com methodo, estas datas: — ­«Dia 1 de janeiro, telegramma expedido com felicitações do começo d’anno a madame Rughel, Hotel d’Albe, Champs Élyseés, Paris. Dia 3, telegramma recebido de madame Rughel, reciprocando comprimentos, exprimindo amizade, annunciando partida para Hamburgo. Dia 15, carta lançada ao correio, para madame Rughel, William-Strasse, Hamburgo, Allemagne. Depois — ­mais nada. De modo que havia já cinco semanas que o menino não escrevia a madame Rughel...

— ­É necessario escrever ámanhã, disse Carlos..

Baptista tomou uma nota.

Depois, entre uma fumaça languida, a voz de