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OS MAIAS

logo adiante do largo da Graça um chaletsinho retirado, fresco, assombreado, sorrindo entre arvores. Passava-se primeiro a Cruz dos Quatro Caminhos; depois penetrava-se n’uma vereda larga, entre quintaes, descendo pelo pendor da collina, mas accessivel a carruagens; e ahi, n’um recanto, ladeada de muros, apparecia emfim uma cazota de paredes enxovalhadas, com dois degraus de pedra á porta, e transparentes novos d’um escarlate estridente.

N’essa manhã, porém, debalde Carlos deu puxões desesperados á corda da campainha, martellou a aldrava da porta, gritou a toda a voz por cima do muro do quintal e das copas das arvores o nome do Ega: — ­a «Villa Balzac» permaneceu muda, como deshabitada, no seu retiro rustico. E todavia pareceu a Carlos que, justamente antes de bater, ouvira o estalar de rolhas de Champagne.

Quando Ega soube esta tentativa, mostrou-se indignado com os criados, que assim abandonavam a casa, lhe davam um ar suspeito de Torre de Nesle...

— ­Vae lá ámanhã, se ninguem responder, escala as janellas, pega fogo ao predio, como se fossem apenas as Tulherias.

Mas no dia seguinte, quando Carlos chegou, já a «Villa Balzac» o esperava, toda em festa: á porta «o pagem», um garoto de feições horrívelmente viciosas, perfilava-se na sua jaqueta azul de botões de metal, com uma gravata muito branca e muito teza; as duas janellas em cima, abertas, mostrando o reps verde das bambinellas, bebiam á larga todo o ar do