Saltar para o conteúdo

Página:Os Maias - Volume 1.djvu/210

Wikisource, a biblioteca livre
200
OS MAIAS

— ­Que diabo! murmurou o Ega n’um tom de viva desconsolação.

A rolha estalou, elle encheu os copos em silencio; e n’uma saude muda os dois amigos beberam o Champagne — ­que Jacob arranjara ao Ega, para o Ega se regalar com Rachel.

Depois, de pé, com os olhos no tapete, agitando de vagar o copo novamente cheio onde a espuma morria, Ega tornou a murmurar, n’aquella entoação triste de inesperado desapontamento:

— ­Que ferro!...

E após um momento:

— ­Pois menino, pensei que a Gouvarinho te appetecia...

Carlos confessou que nos primeiros dias, quando Ega lhe fallara d’ella, tivera um caprichosinho, interessara-se por aquelles cabellos côr de brasa...

— ­Mas agora, mal a conheci, o capricho foi-se...

Ega sentara-se, com o copo na mão; e depois de contemplar algum tempo as suas meias de seda, escarlates como as d’um prelado, deixou cair, muito serio, estas palavras:

— ­É uma mulher deliciosa, Carlinhos.

E, como Carlos encolhia os hombros, Ega insistio: a Gouvarinho era uma senhora de intelligencia e de gosto; tinha originalidade, tinha audacia, uma pontinha de romantismo muito picante...

— ­E, como corpinho de mulher, não ha melhor que aquillo de Badajoz para cá!

— ­Vae-te d’ahi, Mephistopheles de Celorico!