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OS MAIAS
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— ­Juro pela saude da mamã! gritou Ega furioso.

Mas emmudeceu. O Cohen tocara-lhe no braço. O Cohen ía fallar.

O Cohen queria dizer que o futuro pertence a Deus. Que os hespanhoes porém pensassem na invasão isso parecia-lhe certo — ­sobretudo se viessem, como era natural, a perder Cuba. Em Madrid todo o mundo lh’o dissera. Já havia mesmo negocios de fornecimentos entabolados...

— ­Hespanholadas, gallegadas! rosnou Alencar, por entre dentes, sombrio e torcendo os bigodes.

— ­No Hotel de Paris, continuou Cohen, em Madrid, conheci eu um magistrado, que me disse com um certo ar que não perdia a esperança de se vir estabelecer de todo em Lisboa; tinha-lhe agradado muito Lisboa, quando cá estivera a banhos. E em quanto a mim, estou que ha muitos hespanhoes que estão á espera d’este augmento de territorio para se empregarem!

Então Ega cahiu em extasi, apertou as mãos contra o peito. Oh que delicioso traço! Oh que admiravelmente observado!

— ­Este Cohen! exclamava elle para os lados. Que finamente observado! Que traço adoravel! Hein, Craft? Hein, Carlos? Delicioso!

Todos cortezmente admiraram a finura do Cohen. Elle agradecia, com o olho enternecido, passando pelas suissas a mão onde reluzia um diamante. E n’esse momento os creados serviam um prato de ervilhas n’um molho branco, murmurando: