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OS MAIAS
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havia desculpa. Não o prendiam vinte ou trinta libras; e, com aquelle esplendido physico de cavalleiro da Renascença, devia ornar a sala pelo menos com um soberbo Francisco I.

— ­É n’isto, ajuntava elle com fogo, que está a belleza de uma soirée de mascaras! Não lhe parece, você, Damaso? Cada um deve aproveitar a sua figura... Por exemplo, a Gouvarinho vae muito bem. Teve uma inspiração: com aquelle cabello ruivo, o nariz curto, as maçãs do rosto salientes, é Margarida de Navarra...

— ­Quem é Margarida de Navarra? perguntou Affonso da Maia, apparecendo no terraço com Craft.

— ­Margarida, a duqueza d’Angouleme, a irmã de Francisco I, a Margarida das Margaridas, a perola dos Valois, a padroeira da Renascença, a sr.ª condessa de Gouvarinho!...

Rio muito, foi abraçar Affonso, explicou-lhe que se discutia o baile dos Cohens. E appellou logo para elle, para o Craft tambem, ácerca do nefando dominó de Carlos. Não estava aquelle mocetão, com os seus ares de homem d’armas, talhado para um soberbo Francisco I, em toda a gloria de Marignan?

O velho deu um olhar enternecido á belleza do neto.

— ­Eu te digo, John, talvez tenhas razão; mas Francisco I, rei de França, não se póde apear de uma tipoia e entrar n’uma sala, só. Precisa côrte, arautos, cavalleiros, damas, bobos, poetas... Tudo isso é difficil.