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OS MAIAS
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— ­Devérras? exclamou o diplomata, passando logo a mão rapidamente pelo estomago e pelo ventre.

E não se quiz demorar um instante mais! Como Carlos ía recolher tambem, offereceu-lhe um logar na vittoria até ao Ramalhete.

— ­Venha então jantar comnosco, Steinbroken.

— ­Charmé, mon cher, charmé...

A vittoria partiu. E o diplomata agazalhando as pernas e o estomago n’um grande plaid escossez:

— ­Pôs, Maia, fezemos um bello passêo... Mas este Atêrro no é deverrtido.

Não era divertido o Aterro!... Carlos achara-o n’essa tarde o mais delicioso logar da terra!

Ao outro dia, voltou mais cedo; e, apenas dera alguns passos entre as arvores, viu-a logo. Mas não vinha só; ao seu lado o marido, esticado, apurado n’uma jaqueta de casimira quasi branca, com uma ferradura de diamantes no setim negro da gravata, fumava, indolente e languido, e trazia a cadellinha debaixo do braço. Ao passar, deu um olhar surprehendido a Carlos — ­como descobrindo emfim entre os barbaros um ser de linha civilisada, e disse-lhe algumas palavras baixo, a ella.

Carlos encontrara outra vez os seus olhos, profundos e serios: mas não lhe parecera tão bella; trazia uma outra toilette menos simples, de dois tons, côr de chumbo e côr de creme, e no chapéo, d’abas grandes á ingleza, vermelhava alguma cousa, flôr ou penna. N’essa tarde não era a deusa descendo das nuvens d’ouro que se enrolavam alem sobre o mar; era