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Página:Os Maias - Volume 1.djvu/283

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OS MAIAS
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ella olhou um momento, como indecisa, aquelle amplo e molle assento de serralho; depois sentou-se á borda e de leve, com o pequeno junto de si.

— ­Venho trazer-lhe um doente, disse ella sem erguer o véu, como fallando do fundo d’aquella toilette negra que a dissimulava. Não o mandei chamar, por que realmente pouco é, e tinha hoje de passar por aqui... Além d’isso, o meu pequeno é muito nervoso; se vê entrar o medico, parece-lhe que vae morrer. Assim é como uma visita que se faz... E não tens medo, não é verdade, Charlie?

O pequeno não respondeu; de pé, quedo ao lado da mamã; mimoso e debil sob os caracoes d’anjo que lhe cahiam até aos hombros, devorava Carlos com uns grandes olhos tristes.

Carlos poz um interesse quasi terno na sua pergunta:

— ­Que tem elle?

Havia dias, apparecera-lhe uma empigem no pescoço. Além d’isso, por traz da orelha, tinha como uma dureza de caroço. Aquillo inquietava-a. Ella era forte, de uma boa raça, que dera athletas e velhos de grande edade. Mas na familia do marido, em todos os Gouvarinhos, havia uma anemia hereditaria. O conde mesmo, com aquella solida apparencia, era um achacado. E ella, receiando que a influencia debilitante de Lisboa não conviesse a Charlie, estava com o vago projecto de lhe fazer ir passar algum tempo ao campo, em Formoselha, a casa da avó.

Carlos, approximando ligeiramente a cadeira, estendeu os braços a Charlie: