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OS MAIAS
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encantavam Cruges. Ha que tempos elle não via o campo!

Pouco a pouco o sol elevara-se. O maestro desembaraçou-se do seu grande cache-nez. Depois, encalmado, despiu o paletot — ­e declarou-se morto de fome.

Felizmente estavam chegando á Porcalhota.

O seu vivo desejo seria comer o famoso coelho guisado, — ­mas, como era cedo para esse acepipe, decidiu-se, depois de pensar muito, por uma bella pratada de ovos com chouriço. Era uma cousa que não provava havia annos, e que lhe daria a sensação de estar na aldêa... Quando o patrão, com um ar importante e como fazendo um favor, pousou sobre a meza sem toalha a enorme travessa com o petisco, Cruges esfregou as mãos, achando aquillo deliciosamente campestre.

— ­A gente em Lisboa estraga a saude! disse elle. puxando para o prato uma montanha de ovo e chouriço. Tu não tomas nada?...

Carlos, para lhe fazer companhia, acceitou uma chavena de café.

D’ahi a pouco Cruges, que devorava, exclamou com a bocca cheia:

— ­O Rheno tambem deve ser magnifico!

Carlos olhou-o espantado e rindo. A que vinha agora alli o Rheno?... É que o maestro, desde que sahira as portas, estava cheio de idéas de viagens e de paisagens; queria vêr as grandes montanhas onde ha neve, os rios de que se falla na Historia. O seu ideal seria ir á Allemanha, percorrer a pé, com uma