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Página:Os Maias - Volume 1.djvu/334

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OS MAIAS

essencia diferente, nem contéem mais luz que as outras: mas, por isso mesmo que passam fugitivamente e se esvaem, parecem despedir um fulgor mais divino, e o deslumbramento que deixam nos olhos é mais perturbador e mais longo... Elle não a tornara a vêr. Outros viam-n’a. O Taveira vira-a. No Gremio, ouvira um alferes de lanceiros fallar d’ella, perguntar quem era, porque a encontrava todos os dias. O alferes encontrava-a todos os dias. Elle não a via, e não socegava...

O criado trouxe o cognac. Então Carlos, preparando vagarosamente o seu refresco, conversou com elle, fallou um momento dos dois rapazes inglezes, depois da hespanhola obesa... Emfim, dominando uma timidez, quasi córando, fez, atravez de grandes silencios, perguntas sobre os Castro Gomes. E cada resposta lhe parecia uma acquisição preciosa. A senhora era muito madrugadora, dizia o criado: ás sete horas tinha tomado banho, estava vestida, e sahia só. O sr. Castro Gomes, que dormia n’um quarto separado, nunca se mexia antes do meio dia; e, á noite, ficava uma eternidade á meza, fumando cigarettes e molhando os beiços em copinhos de cognac e agua. Elle e o sr. Damaso jogavam o dominó. A senhora tinha montões de flôres no quarto; e tencionavam ficar até domingo, mas fôra ella que apressára a partida...

— ­Ah, disse Carlos depois de um silencio, foi a senhora que apressou a partida?...

— ­Sim, senhor, com cuidado na menina que tinha ficado em Lisboa... V. ex.ª toma mais cognac?