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OS MAIAS
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com a historia horrivel d’um collega d’elle, cujo filho cahira pela escada, se despedaçara, no momento em que a mulher estava a morrer d’uma pleurisia. Cruges resmungou o quer que fosse sobre suicidio. As palavras arrastavam-se, melancolicas. Instinctivamente, Carlos, de vez em quando, ia despertar as lampadas.

Mas tudo lhe pareceu resplandecer, quando d’ahi a instantes Damaso chegou, e lhe disse que o Castro Gomes estava incommodado, e de cama.

— ­Naturalmente, accrescentou o Damaso, mandam-te chamar, por teres já visto a pequena...

Carlos ao outro dia não sahiu de casa, esperando um recado, faiscando d’impaciencia. Nenhum recado veiu. E, duas tardes depois, ao descer para o Aterro — ­o primeiro encontro que teve, ás Janellas Verdes, foi o Castro Gomes, de caleche descoberta, com a mulher ao lado, e a cadellinha no collo.

Ella passou, sem o vêr. E logo ali Carlos decidiu findar aquella tortura, pedir muito simplesmente ao Damaso que o apresentasse ao Castro Gomes, antes d’elle partir para o Brazil... Não podia mais, precisava ouvir a voz d’ella, vêr o que os seus olhos diziam quando eram interrogados de perto.

Mas toda essa semana achou-se, constantemente, sem saber como, na companhia dos Gouvarinhos. Começou por encontrar o conde, que lhe travou do braço, arrastou-o á rua de S. Marçal, installou-o n’uma poltrona, no seu escriptorio, e leu-lhe um artigo que destinava ao Jornal do Commercio sobre a