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OS MAIAS
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Damaso no entanto maldizia a sua chance:

— ­E eu que tinha mulher, eu que a tinha, se houvesse occasião. Mas que diabo queres tu, assim?...

Queixou-se então do Castro Gomes. Em resumo, era um telhudo. E a vida d’aquelle homem era mysteriosa... Que diabo estava elle a fazer em Lisboa? Ali havia difficuldades de dinheiro... E elles não se davam bem. Na vespera houvera de certo questão. Quando elle entrara, ella estava com os olhos vermelhos, e enfiada; e elle, nervoso, a passeiar pela sala, a retorcer a barba... Ambos contrafeitos, uma palavra cada quarto d’hora...

— ­Sabes tu? exclamou elle. Tenho minha vontade de os mandar á fava.

Queixou-se tambem d’ella. Era sobretudo muito desegual. Ora bom modo, ora regelada; e, ás vezes, elle dizia qualquer cousa muito natural, d’estas cousas de conversa de sociedade, e ella punha-se a rir. Era de encavacar, hein? Emfim, gente muito exquisita.

— ­Onde vaes tu? disse elle, com um suspiro de aborrecimento, vendo Carlos pôr o chapeu.

Ia tomar chá com a Gouvarinho.

— ­Pois olha, vou comtigo... Estou d’uma secca!

Carlos hesitou um instante, terminou por dizer:

— ­Vem, fazes-me até favor...

A tarde estava lindissima, Carlos ia no dog-cart.

— ­Ha que tempos que não damos assim um passeio juntos, disse Damaso.

— ­Tu andas lá mettido com estrangeiros!...