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OS MAIAS
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No domingo seguinte, pelas duas horas, Carlos no seu phaeton de oito molas, levando ao lado Craft que durante os dois dias de corridas se installara no Ramalhete, parou ao fim do largo de Belem, no momento em que para o lado do Hyppodromo estavam já estalando foguetes. Um dos criados desceu a comprar o bilhete de pesagem para o Craft, n’uma tosca guarita de madeira, armada alli de vespera, onde se mexia um homemsinho de grandes barbas grisalhas.

Era um dia já quente, azul ferrete, com um d’esses rutilantes soes de festa que enflammam as pedras da rua, doiram a poeirada baça do ar, poem fulgores d’espelho pelas vidraças, dão a toda a cidade essa branca faiscação de cal, d’um vivo monotono e implacavel, que na lentidão das horas de verão cança a alma, e vagamente entristece. No largo dos Jeronymos silencioso, e a escaldar na luz, um omnibus esperava, desatrelado, junto ao portal da Egreja. Um trabalhador com o filho ao collo, e a mulher ao lado no seu chaile de ramagens, andava alli, pasmando para a estrada, pasmando para o rio, a gosar ociosamente o seu domingo. Um garoto ia apregoando desconsoladamente programmas das corridas que ninguem comprava. A mulher da agua fresca, sem freguezes, sentara-se com a sua bilha á sombra, a catar um pequeno. Quatro pesados municipaes a cavallo patrulhavam a passo aquella solidão. E a distancia, sem cessar, o estalar alegre de foguetes morria no ar quente.

No entanto o tritanario continuava debruçado na guarita, sem poder arranjar lá dentro o troco d’uma