— Que tens a dizer-me mais? Fazes-me corar de vergonha.
Pedro, mais branco que o lenço que tinha na mão, exclamou todo a tremer, quasi em soluços:
— Pois póde estar certo, meu pae, que hei de casar!
Sahiu, atirando furiosamente com a porta. No corredor gritou pelo escudeiro, muito alto para que o pae ouvisse, e deu-lhe ordem para levar as suas malas ao hotel da Europa.
Dois dias depois Villaça entrou em Bemfica, com as lagrimas nos olhos, contando que o menino casára n’essa madrugada — e segundo lhe dissera o Sergio, procurador do Monforte, ia partir com a noiva para a Italia.
Affonso da Maia sentára-se n’esse instante á mesa do almoço, posta ao pé do fogão: ao centro, um ramo esfolhava-se n’um vaso do Japão, á chamma forte da lenha: e junto ao talher de Pedro estava o numero da Grinalda, jornal de versos que elle costumava receber... Affonso ouviu o procurador, grave e mudo, continuando a desdobrar lentamente o seu guardanapo.
— Já almoçou, Villaça?
O procurador, assombrado d’aquella serenidade, balbuciou:
— Já almocei, meu senhor...
Então Affonso, apontando para o talher de Pedro, disse ao escudeiro:
— Póde tirar d’alli esse talher, Teixeira. D’aqui por diante ha só um talher á mesa... Sente-se, Villaça, sente-se.