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Página:Os Maias - Volume 1.djvu/58

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OS MAIAS

pequeno o nome de Affonso. Mas n’isso Maria não consentiu. Andava lendo uma novella de que era heroe o ultimo Stuart, o romanesco principe Carlos Eduardo; e, namorada d’elle, das suas aventuras e desgraças, queria dar esse nome a seu filho... Carlos Eduardo da Maia! Um tal nome parecia-lhe conter todo um destino de amores e façanhas.

O baptisado teve de ser retardado; Maria adoecera com uma angina. Foi muito benigna porém; e d’ahi a duas semanas Pedro podia já sahir para uma caçada na sua quinta da Tojeira, adiante d’Almada. Devia demorar-se dois dias. A partida arranjara-se unicamente para obsequiar um italiano, chegado por então a Lisboa, distincto rapaz que lhe fôra apresentado pelo secretario da Legação Ingleza, e com quem Pedro sympathisara vivamente; dizia-se sobrinho dos Principes de Soria; e vinha fugido de Napoles, onde conspirára contra os Bourbons e fôra condemnado á morte. O Alencar e D. João Coutinho iam tambem á caçada — ­e a partida foi de madrugada.

N’essa tarde, Maria jantava só no seu quarto, quando sentiu carruagens parando á porta, um grande rumor encher a escada; quasi immediatamente Pedro apparecia-lhe tremulo e enfiado:

— ­Uma grande desgraça, Maria!

— ­Jesus!

— ­Feri o rapaz, feri o napolitano!...

— ­Como?

Um desastre estupido!... Ao saltar um barranco, a espingarda dispara-se-lhe, e a carga, zás, vae cra-