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OS MAIAS
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de oleado. As malas tinha-as deixado em baixo; e o cocheiro viera tambem, como nenhum dos senhores estava em casa...

— ­Bem, bem, interrompeu Affonso. O sr. Villaça lá irá amanhã, e elle dará as ordens.

O criado então, em bicos de pés, foi depôr o estojo sobre o marmore da commoda: ainda lá restavam antigos frascos de toilette de Pedro: e os castiçaes sobre a meza allumiavam o grande leito triste de solteiro com os colxões dobrados ao meio.

A Gertrudes toda atarefada entrara com os braços carregados de roupa de cama; o Teixeira bateu vivamente os travesseiros; o criado d’Arroios pousando o chapéo a um canto, e sempre em ponta de pés, veiu ajudal-os tambem. Pedro no entanto, como somnambulo, voltara para a varanda, com a cabeça á chuva, attraido por aquella treva da quinta que se cavava em baixo com um rumor de mar bravo.

Affonso, então, puxou-lhe o braço quasi com aspereza.

— ­Pedro! Deixa arranjar o quarto! Desce um momento.

Elle seguiu maquinalmente o pae á livraria, mordendo o charuto apagado que desde tarde conservava na mão. Sentou-se longe da luz, ao canto do sophá, ali ficou mudo e entorpecido. Muito tempo só os passos lentos do velho, ao comprido das altas estantes, quebraram o silencio em que toda a sala ia adormecendo. Uma braza morria no fogão. A noite parecia mais aspera. Eram de repente vergastadas