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OS MAIAS

para os degraus que desciam ao jardim, mal poude reconhecer Affonso da Maia n’aquelle velho de barba de neve, mas tão robusto e corado, que vinha subindo a rua de romanzeiras com o seu neto pela mão.

Carlos, ao avistar no terraço um desconhecido, de chapéo alto, abafado n’um cache-nez de pelucia, correu a miral-o, curioso — ­e achou-se arrebatado nos braços do bom Villaça, que largara o guarda sol, o beijava pelo cabello, pela face, balbuciando:

— ­Oh meu menino, meu querido menino! Que lindo que está! que crescido que está...

— ­Então, sem avisar, Villaça? exclamava Affonso da Maia, chegando de braços abertos. Nós só o esperavamos para a semana, creatura!

Os dois velhos abraçaram-se; depois um momento os seus olhos encontraram-se, vivos e humidos, e tornaram a apertar-se commovidos.

Carlos ao lado, muito serio, todo esbelto, com as mãos enterradas nos bolsos das suas largas bragas de flanella branca, o casquete da mesma flanella posta de lado sobre os bellos anneis do cabello negro — ­continuava a mirar o Villaça, que com o beiço tremulo, tendo tirado a luva, limpava os olhos por baixo dos oculos.

— ­E ninguem a esperal-o, nem um criado lá em baixo no rio! dizia Affonso. Emfim, cá o temos, é o essencial... E como você está rijo, Villaça!

— ­E v. ex.ª meu senhor! balbuciou o administrador, engulindo um soluço. Nem uma ruga! Branco