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Página:Os Maias - Volume 1.djvu/91

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OS MAIAS
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viscondessa, deleitada, agitou preguiçosamente o leque: o abbade, com a sua boa face banhada em extasi para o menino, apertava as mãos cabelludas contra o peito, tanto aquillo lhe parecia engraçado: e Affonso tossia por traz do guardanapo, como limpando as barbas — ­a esconder o riso, a admiração que lhe brilhava nos olhos.

Tanta vivacidade surprehendeu tambem Villaça. Quiz ouvir mais o menino, e pousando o seu talher:

— ­E diga-me, Carlinhos, já vae adiantado nos seus estudos?

O rapaz, sem o olhar, repoltreou-se, mergulhou as mãos pelo cós das flanellas, e respondeu com um tom superior:

— ­Já faço ladear a Brigida.

Então o avô, sem se conter, largou a rir, cahido para o espaldar da cadeira:

— ­Essa é boa! Eh! Eh! Já faz ladear a Brigida! E é verdade, Villaça, já a faz ladear... Pergunte ao Brown; não é verdade, Brown? E a eguasita é uma piorrita, mas fina...

— ­Oh vovô, gritou Carlos já excitado, dize ao Villaça, anda. Não é verdade que eu era capaz de governar o dog-cart?

Affonso reassumio um ar severo.

— ­Não o nego... Talvez o governasse, se lh’o consentissem. Mas faça-me favor de se não gabar das suas façanhas, porque um bom cavalleiro deve ser modesto... E sobre tudo não enterrar assim as mãos pela barriga abaixo...