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OS MAIAS
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come, e todas as outras cousas do Universo em que vive...

— ­Mas emfim os classicos, arriscou timidamente o abbade.

— ­Qual classicos! O primeiro dever do homem é viver. E para isso é necessario ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consiste n’isto: crear a saude, a força e os seus habitos, desenvolver exclusivamente o animal, armal-o d’uma grande superioridade physica. Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois... A alma é outro luxo. É um luxo de gente grande...

O abbade coçava a cabeça, com o ar arripiado.

— ­A instrucçãosinha é necessaria, disse elle. Você não acha, Villaça? Que v. exª, sr. Affonso da Maia, tem visto mais mundo do que eu... Mas emfim a instrucçãosinha...

— ­A instrucção para uma creança não é recitar Tityre, tu patulae recubans... É saber factos, noções, cousas uteis, cousas praticas...

Mas suspendeu-se: e, com o olho brilhante, n’um signal ao Villaça, mostrou-lhe o neto que palrava inglez com o Brown. Eram de certo feitos de força, uma historia de briga com rapazes que elle lhe estava a contar, animado e jogando com os punhos. O perceptor approvava, retorcendo os bigodes. E á mesa os senhores com os garfos suspensos, por traz os escudeiros de pé e guardanapo no braço, todos, n’um silencio reverente, admiravam o menino a fallar inglez.