Página:Os Maias - Volume 2.pdf/341

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
331

João da Ega — que fallasse á gente e guardasse o seu dinheiro...

Ega acercou-se logo d’aquelle sympathico homem, tão engraçado, tão querido de todos:

— Então, na grande faina, Melchior?

— Estou aqui a vêr se faço uma coisa sobre o livro do Craveiro, os Cantos da Serra, e não me sae nada em termos... Não sei o que hei de dizer!

Ega gracejou, de mãos nos bolsos, muito risonho, muito camarada com o Melchior:

— Nada! Vocês aqui são simples localistas, noticiaristas, annunciadores. D’um livro como o do Craveiro têm só respeitosamente a dizer onde se vende e quanto custa.

O outro considerou o Ega ironicamente, com os dedos cruzados por traz da nuca:

— Então onde queria você que se fallasse dos livros?... Nos reportorios?

Não, nas Revistas Criticas: ou então nos jornaes — que fossem jornaes, não papeluchos volantes, tendo em cima uma cataplasma de politica em estylo mazorro ou em estylo fadista, um romance mal traduzido do francez por baixo e o resto cheio com «annos», despachos, parte de policia e loteria da Misericordia. E como em Portugal não havia nem jornaes sérios nem Revistas Criticas — que se não fallasse em parte nenhuma.

— Com effeito, murmurou Melchior, ninguem falla de nada, ninguem parece pensar em nada...

E com toda a razão, affirmou Ega. Certamente