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OS MAIAS

là, dans le genre sublime, dans le genre de Demosthènes, il m’a paru très fort... Oh, il m’a paru excessivement fort!

— E você, Craft?

Craft, no sarau, só gostára do Alencar. Ega encolheu violentamente os hombros. Ora historias! Nada podia haver mais comico que a Democracia romantica do Alencar, aquella Republica meiga e loura, vestida de branco como Ophelia, orando no prado, sob o olhar de Deus... Mas Craft justamente achava tudo isso excellente por ser sincero. O que feria sempre nas exhibições da litteratura portugueza? A escandalosa falta de sinceridade. Ninguem, em verso ou prosa, parecia jámais acreditar n’aquillo que declamava com ardor, esmurrando o peito. E assim fôra na vespera. Nem o Rufino parecia acreditar na influencia da religião; nem o homem da barba bicuda no heroismo dos Castros e dos Albuquerques; nem mesmo o poeta dos olhinhos bonitos na bonitice dos olhinhos... Tudo contrafeito e postiço! Com o Alencar, que differença! Esse tinha uma fé real no que cantava, na Fraternidade dos povos, no Christo republicano, na Democracia devota e coroada d’estrellas...

— Já deve ser bem velho esse Alencar, observou D. Diogo que rolava bolinhas de pão entre os longos dedos pallidos.

Carlos, ao lado, emergiu emfim do seu silencio:

— O Alencar deve ter bons cincoenta annos.